sábado, 27 de novembro de 2010

Ecofeminismo

O ecofeminismo é uma corrente de pensamento que apareceu na Europa no último terço do século XX. Françoise d'Eaubonne, em 1974, utiliza pela primeira vez o termo ecofeminismo na sua obra "Le Feminism ou la Mort" para referir-se à capacidade das mulheres como impulsoras de uma revolução ecológica que ocasione e desenvolva uma nova estrutura relacional de gênero entre mulheres e homens, assim como entre a humanidade e o meio ambiente.

Antes da concepção do termo ecofeminismo por parte de d'Eaubonne, já se havia descrito na literatura feminista dos anos setenta uma conexão entre o ideário feminista e a ecologia, de onde se refletiam sociedades não opressivas para as mulheres, descentralizadas, não militarizadas e com um alto respeito pela natureza.

Não há somente uma definição de ecofeminismo, mas as ecofeministas concordam que a dominação das mulheres e a degradação da natureza estão fundamentalmente conectadas e os esforços ecológicos são portanto integrais ao trabalho de superar a opressão das mulheres.

Os objetivos primários do ecofeminismo não são os mesmos daqueles tipicamente associados ao feminismo liberal. Ecofeministas não procuram igualdade com os homens como tais, mas intencionam a libertação das mulheres enquanto mulheres.

"Cuidado com as mulheres quando se sentem enojadas de tudo o que as rodeia e se levantam contra o mundo velho. Nesse dia nascerá o mundo novo."
Louise Michel



Mulheres e natureza

Nas sociedades ocidentais as mulheres são tratadas como inferiores aos homens, a "natureza" é tratada como inferior à "cultura", e humanos são compreendidos como sendo separados, e frequentemente superiores, em relação ao ambiente natural.

Durante toda nossa história a natureza é retratada como feminina e as mulheres são frequentemente consideradas mais próximas da natureza do que os homens. A conexão fisiológica das mulheres com o nascimento e nutrição tem levado em parte a essa associação junto à natureza. O ciclo menstrual, que é ligado aos ciclos Lunares, é visto também como evidência da proximidade das mulheres com o corpo e os ritmos naturais. A imagem cultural da "mulher em período pré-menstrual" como irracional e superemocional exemplifica essa associação entre mulheres, o corpo, natureza e o irracional.

Ecofeministas focam nestas conexões, e analisam como elas degradam e oprimem tanto "mulheres" como "natureza".

Ecofeminismo acredita que a sociedade Patriarcal é construída em cinco pilares interligados: sexismo, racismo, exploração de classe, especismo e destruição ambiental. A análise ecofeminista revela que não são somente as mulheres que são representadas como sendo "mais próximas da natureza"; raças e classes sociais oprimidas também têm sido associadas junto à natureza.

"Gênero, classe, raça e natureza devem ser teorizados juntos se nós estamos finalmente nos movendo para além destas opressões... Ficando cientes de como a opressão se foca na corporificação nós podemos também teorizar outras opressões relacionadas, tais como aquelas contra pessoas idosas, deficientes e contra sexualidades alternativas. Então, o potencial para o ecofeminismo ser uma teoria de liberação radicalmente inclusiva é considerável." em ‘O que é Ecofeminismo?’ 


Especismo e Sexismo, qual a ligação?

As mulheres e os animais, junto com a terra e as crianças, têm sido vistos historicamente como a propriedade do cabeça masculino da família. O patriarcado (o controle masculino da vida política e doméstica) e o pastoreio (o cuidado dos rebanhos como forma de vida) apareceram no mesmo estágio histórico e não podem ser separados, porque ambos se justificam e são perpetuados com base nas mesmas ideologias e práticas.

Tanto as mulheres como os animais têm sido considerados historicamente menos inteligentes e mais próximos da natureza que os homens. Táticas como a objetificação, a ridicularização e o controle da reprodução foram e continuam sendo utilizadas para controlar e explorar tanto as mulheres como os animais.


Assim, o homem estabelece uma distância abismal entre si mesmo e a natureza, as mulheres e os animais, de modo que estes sejam objetificados, percebidos como consumíveis, como meios de produção, de entretenimento ou selvagens que foram ou precisam ser domesticados, a fim de servirem ao domínio do homem e de seu sistema opressivo.






Premissas do Ecofeminismo

A partir do ecofeminismo inicial, têm se desenvolvido diversas tendências influenciadas pela posição feminista da qual procedem (ecofeminismo radical, liberal, socialista), estabelecendo em cada uma delas suas próprias estratégias de atuação, ainda que os pontos principais nos quais se beseiam são os mesmos e se reduzem aos seguintes:

1. A ordem simbólica patriarcal estabelece por igual uma situação de dominação e exploração para as mulheres e para a natureza.
2. O patriarcado faz uso da biologia para situar as mulheres num plano de proximidade com a natureza, identificando-as com ela. Os homens, em oposição, se identificam com a razão, justificando desta forma a superioridade da razão sobre a natureza ou, o que é o mesmo, a superioridade do patriarcado; assim se explica que as mulheres sejam consideradas inferiores aos homens.
3. As mulheres estão numa posição vantajosa para acabar com a dominação patriarcal sobre a natureza e sobre si mesmas, dado que sua própria situação de exploração as faz estar mais próximas. 

4. O movimento feminista e o movimento ecologista têm objetivos comuns e deveriam trabalhar conjuntamente na construção de alternativas.

O ecofeminismo radical insiste na vinculação entre as mulheres e a natureza, a um nível biosocial e histórico, assinalando que, em ambos os casos, a origem da exploração e da opressão provém da sujeição à ordem patriarcal estabelecida. O ecofeminismo liberal, embasa sua teoria no feminismo da igualdade e na teoria conservacionista da natureza. Estabelece que o modelo economicista implantado pelo homem não atende às repercursões perniciosas que este ocasiona sobre a natureza. Rechaça que as diferenças biológicas entre mulheres e homens levem a condutas distintas a respeito do meio ambiente. O ecofeminismo socialista fundamenta sua teoria em torno do patriarcado e do capitalismo, os quais responsabiliza pela exploração do meio ambiente para possibilitar o desenvolvimento econômico. O capitalismo tem proporcionado a técnica necessária em benefício dos homens, os quais tem dotado de instrumentos e meios de controle sobre as mulheres anulando sua intervenção na economia.
"O solo comum das várias escolas de ecologia social é o reconhecimento de que a natureza fundamentalmente antiecológica de muitas de nossas estruturas sócio-econômicas está arraigada no que Riane Eisler chamou de "sistema do dominador" de organização social. O patriarcado, o imperialismo, o capitalismo e o racismo são exemplos de dominação exploradora e antiecológica. O ecofeminismo poderia ser encarado como uma escola especial de ecologia social, uma vez que também aborda a dinâmica de dominação social dentro do contexto do patriarcado. Entretanto, sua análise cultural das muitas facetas do patriarcado e das ligações entre feminismo e ecologia vai muito além do arcabouço da ecologia social. As ecofeministas vêem a dominação patriarcal de mulheres por homens como o protótipo de todas as formas de dominação e exploração: hierárquica, militarista, capitalista e industrialista. Elas mostram que a exploração da natureza, em particular, tem marchado de mãos dadas com a das mulheres, que têm sido identificadas com a natureza através dos séculos. Essa antiga associação entre mulheres e natureza liga a história das mulheres com a história do meio ambiente, e é a fonte de um parentesco natural entre feminismo e ecologia. Conseqüentemente, as ecofeministas vêem o conhecimento vivencial feminino como uma das fontes principais de uma visão ecológica da realidade."

Fritjof Capra, em Rumo à Ecologia Profunda

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